Com 30 litros de etanol, a Nissan NV200 SOFC pode rodar por mais de 600 km, emitindo uma quantidade mínima de CO2

Van Elétrica da Nissan recarrega baterias com etanol

maio 11, 2017

Tecnologia permite usar 30 litros de etanol para rodar 600 km. Entenda como funciona a Nissan NV200 SOFC e como ela muda os carros elétricos

Uma das grandes dificuldades dos carros elétricos, principalmente em países sem estrutura especial como o Brasil, é seu tempo de recarga. Apesar da autonomia desses veículos ter crescido muito nos últimos anos, na hora de plugar na tomada, leva horas para que alcance 90% da carga. A Nissan aposta em um sistema que usa o etanol para gerar energia sem combustão, como se fosse uma pilha, permitindo um carro rodar por 600 km com 30 litros de combustível.

Em testes desde agosto de 2016, o Nissan  NV200 SOFC é um protótipo que utiliza esta tecnologia. A marca trouxe duas unidades elétricas da van NV200 e adaptou para experimentar o sistema, rodando exclusivamente no País. “Sem postos de recarga rápida para elétricos, usar etanol é uma alternativa, pois todos os postos de combustível do Brasil vendem etanol, o que facilita os testes”, afirma Ricardo Abe, gerente de engenharia da fabricante.

O etanol é aquecido e a reação química fornece energia para as baterias do carro elétrico
Divulgação/Nissan

O etanol é aquecido e a reação química fornece energia para as baterias do carro elétrico

O sistema é relativamente simples. O etanol é misturado com água e aquecido em um reformador. Isso causa uma reação que separa os átomos de hidrogênio, deixando uma pequena quantidade de CO2. O H2 vai para a célula de combustível de óxido sólido, gerando eletricidade ao ser misturado com o oxigênio do ar e liberando vapor de água e o CO2 criado anteriormente na atmosfera. “A quantidade de CO2 da reação é tão baixa que será absorvida pela cana usada para fazer etanol”, explica Abe.

Com as baterias abastecidas, a energia é transmitida até o motor elétrico posicionado na frente do veículo. O conjunto mecânico é o mesmo do Nissan Leaf, hatch elétrico vendido nos EUA e na Europa. O pequeno motor gera 109 cv e 28,5 kgfm, torque o suficiente para mover a van com facilidade – lembrando que motores elétricos entregam torque instantaneamente, ao contrário de carros a combustão que precisam aumentar as rotações até alcançar os 90% (por volta de 2.500 rpm).

Esta tecnologia resolve diversos problemas dos automóveis movidos a hidrogênio, que é caro para produzir e altamente explosivo, demandando um alto investimento não só para gerar o combustível, como também para armazená-lo de forma segura. O etanol é mais fácil de se lidar, é utilizado em diversos países (seja da cana ou do milho) e pode utilizar a estrutura atual de postos de combustível. O custo comparativo por quilômetro rodado é bem próximo do carro elétrico, de R$ 0,10/km, contra os R$ 0,09/km dos EV. Um veículo a gasolina gasta R$ 0,30/km.

 

É o futuro?

Todo o conjunto que gera energia para as baterias pesa 250 kg e ocupa boa parte do porta-malas da van
Divulgação/Nissan

Todo o conjunto que gera energia para as baterias pesa 250 kg e ocupa boa parte do porta-malas da van

Todo o conceito é bem interessante e gerou muita curiosidade entre os jornalistas do setor automotivo. A Nissan está mandando os carros para os engenheiros no Japão analisarem e realizarem testes (uma das vans, a que rodou mais tempo no Brasil, já foi para o oriente). Antes de despachar a outra unidade, aproveitaram para mostrar o modelo e dar a oportunidade de dirigir um pouco.

Foi um contato muito breve, dando duas voltas pela Praça Charles Miller, o famoso espaço em frente ao Estádio do Pacaembu (São Paulo). Se não fossem pelos adesivos na carroceria, ninguém perceberia que é um protótipo (exceto por ser uma van que não é vendida por aqui). Só iremos perceber a diferença ao abrir o porta-malas, onde está o reformador, as baterias e as células de combustível.

Ao olhar para a tecnologia instalada no carro, fica claro porque a NV200 foi escolhida. Os equipamentos pesam cerca de 250 kg, ocupam todo o assoalho do porta-malas e tem um palmo e meio de altura – ou seja, não caberia em nenhum outro carro de passeio. Como é um período de testes da tecnologia, não se preocuparam em reduzir seu tamanho, o que só acontecerá quando comprovarem que é viável.

Logo chegou minha vez. É uma NV200 normal em praticamente tudo. A cabine não teve nenhuma alteração além das que já são realizadas para a versão elétrica da van. O motor está ligado, mas não parece, pelo completo silêncio. A transmissão, como em outros carros “verdes”, tem a posição D para dirigir e a B, que regenera a energia das frenagens para recarregar as baterias.

 

Começo a guiar e piso fundo. O torque, entregue na hora, faz a van acelerar com vigor. Não é nenhuma surpresa, pois é o mesmo que utilizar a versão elétrica da NV200 com um pouco de carga no porta-malas. Como não há combustão alguma, a reação química não faz nenhum barulho, então os únicos sons são da roda no asfalto e do carro cortando o vento. Com 30 litros de etanol no tanque, poderia continuar rodando por 600 quilômetros, ou até mais, caso ativasse o modo de recuperação de energia por frenagem.

Foram duas voltas no futuro. A tecnologia não é nova, sendo utilizada em geradores, mas é a primeira aplicação em um carro. Há um longo caminho até que seja viável. Precisam ter certeza de sua durabilidade, reduzir o tamanho do sistema para caber em carros menores, alcançar um bom custo para produzir e encontrar uma forma de diluir o gasto com a pesquisa. Se depender da Nissan, este será o substituto dos carros a combustão.